quinta-feira, 1 de outubro de 2009

30 DE SETEMBRO - DATA MAIOR DOS MOSSOROENSES

FONTE: JORNAL DE FATO
A força do pioneirismo
A palavra liberdade abriga uma gama de sentimentos e emoções que a cidade de Mossoró viveu e presenciou em 30 de setembro de 1883. Naquele dia, mulheres, homens, crianças e velhos escravizados “quebraram” as correntes que os aprisionavam e caminharam rumo a um futuro incerto, mas livre de qualquer amarra que os impedisse de decidir o próximo passo a seguir em suas vidas.
Cento e vinte e seis anos depois, Mossoró é uma cidade marcada pelo desenvolvimento urbano e avanço na qualidade de vida de seu povo, conquistas que condizem com o ideal libertário de sua gente. Numa análise histórica é fácil perceber que o símbolo da liberdade comemorado todos os anos pelos mossoroenses está diretamente ligado à figura pioneira que o município teve desde o seu começo. Da coragem e determinação de mossoroenses simples e ilustres nasceram ideias e atitudes inovadoras, que deixaram o nome da capital do Oeste potiguar marcado na história do Estado e do País. Neste caderno especial traçamos um paralelo entre o pioneirismo e o papel libertário da cidade.
No aspecto histórico destacamos atos importantes como o primeiro voto feminino, feito da professora mossoroense Celina Guimarães; a garra e coragem de Ana Floriano, líder do movimento conhecido como o motim das mulheres; a abolição dos escravos e o orgulho de sermos a única cidade a expulsar o temido cangaceiro Virgulino Ferreira, o “Lampião”, e sua cabruêra.
Na política contamos a história de Wilma de Faria e Rosalba Ciarlini, duas mossoroenses que com competência e inteligência política alçaram voos importantes até conquistarem respeito e espaços privilegiados na política nacional. A primeira é a única mulher, até o momento, a ocupar o cargo de governadora do Rio Grande do Norte, enquanto a segunda foi a primeira mulher a ocupar a Prefeitura de Mossoró, em 1989, e também a primeira mulher a ocupar o cargo de senadora da República, pelo Estado do Rio Grande do Norte.
Na área da saúde vamos mostrar um exemplo que dá gosto. A força da solidariedade dos mossoroenses na luta pela construção do primeiro hospital especializado no tratamento do câncer na cidade. Uma unidade que deve 90% de sua existência às contribuições voluntárias de empresários, comerciantes e cidadãos comuns que acreditam que para ajudar o próximo basta vontade. Destacamos ainda a iniciativa de criação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) como projeto modelo de saúde pública, que em poucos anos de funcionamento já atraiu o interesse da prefeitura da capital do Estado, que vai usar a experiência mossoroense como ponto de partida para a construção dessas unidades em Natal.
Abrimos espaço também para revelar o pioneirismo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) como a primeira instituição do país a ganhar, a partir do nome, autoridade para gerar conhecimento capaz de atuar na solução de problemas específicos do semiárido brasileiro. E por falar em Ufersa, lembramos um pouco da história de seu principal fundador, professor Vingt-un Rosado Maia – responsável pela criação da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), transformada na Ufersa, e sua Coleção Mossoroense, uma das iniciativas mais ricas na produção de periódicos e obras do Brasil.
Todos os exemplos mostrados nas reportagens revelam que liberdade se conquista de várias formas e, através de suas iniciativas pioneiras, o povo mossoroense aprendeu a deixar sua marca registrada na história.
30 de setembro: a data maior

Ao longo dos seus 139 anos, Mossoró construiu um legado de pioneirismo, resistência e bravura, fazendo com que sua gente se orgulhe de fatos históricos como o primeiro voto feminino, a resistência ao bando de Lampião, o motim das mulheres que impediu que maridos e filhos fossem recrutados para a Guerra do Paraguai e principalmente pela Libertação dos Escravos, cinco anos antes da Lei Áurea.
Esse fato aliás, fez com que os mossoroenses elegessem o 30 de setembro como a data maior do Município, com direito a feriado e desfile. A festa que praticamente substituiu a emancipação da cidade é comemorada com muita festa e orgulho cívico.
Foi exatamente em 30 de setembro de 1883, que o presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense, Joaquim Bezerra da Costa abre sessão solene no 1º andar do prédio da Câmara Municipal, onde hoje é o Museu com a seguinte declaração: "Livre o Município de Mossoró da mancha negra da escravidão". Além dos abolicionistas, os salões da câmara estavam lotados de populares.
De acordo com o historiador Geraldo Maia, depois da sessão, a festa tomou conta da cidade. "A cidade ficou em festa pelo feito histórico e pioneiro. Além da alegria, as pessoas estavam orgulhosas", destacou.
Uma curiosidade destacada pelo historiador é que Mossoró, particularmente nunca foi uma cidade escravocrata. Possuía apenas 153 escravos em 1862, para uma população livre de 2.493 indivíduos.
"Estaticamente o percentual era insignificante. A cidade não tinha engenhos; cuidava do gado e para isso não precisava de muitos braços", justificou.
Segundo Geraldo, os escravos comprados em Mossoró eram remetidos para Fortaleza e dali para as províncias do sul. Para o historiador, esse tipo de comércio despertou o sentimento de piedade pelos cativos.
Devido ao ato libertário e aos fatos de pioneirismo, o mossoroense começou a incorporar o sentido Terra da Liberdade, e expressa isso de várias formas.
O espetáculo Auto da Liberdade (que excepcionalmente não será encenada esse ano) é o maior exemplo disso. A peça encenada ao ar livre e que retrata esses fatos históricos já integrou o livre dos recordes como o maior espetáculo de rua do mundo.
O espetáculo esse ano acabou sendo integrado ao Cortejo da Liberdade- que também é outra manifestação de orgulho mossoroense. O desfile cívico-cultural realizado no dia 30, nem de longe lembra o 7 de setembro- Independência do Brasil que em Mossoró se resume a um desfile cívico com pouca participação.
"O mossoroense participa do 30 de setembro de uma forma impressionante. Foi a data que a cidade escolheu como a mais importante e por isso ficou", comentou o secretário municipal da Cidadania, Francisco Carlos.

CURIOSIDADE

Os mossoroenses poderiam ter escolhido três datas para comemorar o aniversário da cidade: 5 de agosto (autorização para construção da Capela de Santa Luzia-marco do arraial); 24 de janeiro (data da instalação da 1ª Câmara Municipal) ou 09 de novembro quando a vila foi elevada a cidade.

Novidade: Cortejo absorve Auto da Liberdade
O cancelamento do espetáculo Auto da Liberdade deste ano não acabou com a essência do evento. O Cortejo da Liberdade, desfile cívico-cultural que acontece no dia 30 de Setembro e que fecha a programação da liberdade, acabou absorvendo a ideia do espetáculo de uma forma toda particular e original.
Com o tema "O Auto nas Ruas", o desfile se propôs a contar a história da cidade em um grande espetáculo, reunindo patriotismo e arte.
"Como o espetáculo esse ano não foi feito, nós da gerência, juntamente com a classe artística, resolvemos levar para o cortejo um pouco dessa história de maneira diferente: coreografada e encenada. É uma forma de compensar a lacuna e resgatar o trabalho que vinha sendo construído há dez anos. No cortejo, os atores serão condutores da história", afirmou a gerente Executiva da Cultura, Clézia Barreto.
Cerca de duas mil pessoas participam do desfile, que é dividido em dois momentos. O primeiro é a parte cívica, com desfile militar do Tiro de Guerra 07/010, Polícia Militar, Banda de Música da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Getran, além dos Desbravadores, Grupo de Escoteiros, fanfarra da Escola Municipal Raimunda Nogueira do Couto, representação da rede municipal de ensino e das Lojas Maçônicas.
A segunda parte é a cultural. Nela, atores, atrizes, dançarinos, estudantes e população em geral desfilam referenciando os quatro momentos históricos dos mossoroenses: o Motim das Mulheres; Abolição dos Escravos; Resistência a Lampião e o 1º Voto Feminino. O desfile será conduzido por uma única música de autoria de Danilo Guanais e que costumeiramente encerrava o espetáculo Auto da Liberdade.
O desfile tem comissão de frente, carro abre-alas, quatro carros-cenários e 25 alas. Cerca de R$ 200 mil foram investidos no evento, que é considerado um dos mais importantes da cidade, já que a data faz menção à Libertação dos Escravos, que em Mossoró aconteceu cinco anos antes da assinatura da Lei Áurea.
Para tudo sair como planejado, os trabalhos no barracão instalado no antigo galpão de Zé Agostinho, no bairro Pereiros, estão acelerados. Desde o dia 1º de setembro, cinco aderecistas, dois figurinistas, uma cenógrafa, 10 costureiras e 10 homens de apoio trabalham até tarde para tudo sair perfeito.
O secretário da Cidadania, Francisco Carlos Carvalho, destaca que o Cortejo da Liberdade é uma das principais manifestações cívico-culturais da cidade e que por isso merece todo reconhecimento.
"O desfile do 30 de Setembro é belo. A participação e o envolvimento da população chegam a emocionar", falou o secretário.

O voto de celina amplia direitos femininos

"Alistai-vos, mulheres mossoroense, a fim de contribuirdes para o progresso do vosso município, do vosso Estado, do vosso Brasil. Hoje é um dia de hosanas para o Rio Grande do Norte". Com essa mensagem estampada em panfletos, a educadora Celina Guimarães conclamava as mulheres pelas ruas de Mossoró a exercerem seu direito de votar nas eleições gerais do Rio Grande do Norte em 1928.
Nessa época, ela já havia se tornado referência no país por ter sido a primeira mulher a ter o direito de voto em toda a América Latina. A entrada no pedido de inclusão do seu nome no alistamento eleitoral aconteceu um mês depois de sancionada a Lei de nº 660, de 25 de outubro de 1927, pelo então governador José Augusto Bezerra de Medeiros.
O então governador regulamentou o fim da "distinção de sexo" para o exercício do voto e que impedia o voto feminino no Estado. Em 25 de novembro de 1927, há exatos 82 anos, Celina dava entrada com seu pedido e teve naquele mesmo dia autorização do juiz Israel Ferreira Nunes, então juiz eleitoral de Mossoró, em substituição ao dr. Eufrásio de Oliveira.
É importante ressaltar que a primeira mulher a requerer a inclusão no alistamento eleitoral não foi Celina. Um dia antes dela, a professora Júlia Alves Barbosa entrou com o pedido em Natal, porém teve seu despacho retardado pelo juiz pelo fato de ser solteira.
Mesmo tendo gravado seu nome na história e sendo considerada uma mulher a frente do seu tempo, Celina chegou a confidenciar ao escritor Walter Wanderley que a intenção de solicitar o seu alistamento na verdade partiu do seu marido, o professor e advogado Eliseu Viana.
"Eu não fiz nada. Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se na campanha de participação da mulher na política brasileira e, para ser coerente, começou com a dele, levando meu nome de roldão. Jamais pude pensar que, assinando aquela inscrição eleitoral, o meu nome entraria para a história. Até o cartório de Mossoró, onde me alistei, botou uma placa rememorando o acontecimento. Sou grata a tudo isso que devo exclusivamente ao meu saudoso marido", disse Celina em entrevista a Walter, escritor da biografia de Eliseu Viana.

Mais que a primeira eleitora

Não se sabe ao certo qual era a atuação de Celina pelos direitos políticos e civis das mulheres antes da Lei estadual e antes do primeiro voto feminino. Mas, são muitos os relatos que mostram que Celina Guimarães era uma mulher à frente de seu tempo e que muitos de seus feitos, especialmente como educadora, acabaram sendo esquecidos ou encobertos pela "fama do primeiro voto feminino".
Quem a conheceu de perto sabe que ela era uma mulher de fibra e acima de tudo uma educadora competente que adorava desafios.
O escritor Walter Wanderley foi uma das poucas pessoas que conseguiram registrar o lado profissional e familiar de Celina. Em seu livro "Eliseu Viana - O Educador", ele mostra o dinamismo da natalense que veio para Mossoró em 1914 lecionar no Grupo Escolar 30 de Setembro.
Um dos episódios mais inusitados da professora foi o fato dela ter aceito treinar um grupo de meninos de bairro que queriam aprender futebol em 1917.
"Certa manhã, dona Celina apareceu na Praça do Moinho, ou da Escola Normal, de livro na mão e apito na boca, cercada de meninos desejosos de aprender o novo esporte. Decidida, ela mandou que colocassem duas pedras, numa distância de quatro metros de cada lado e passou a dividir a garotada", narrou o escritor, acrescentando que como o futebol daquela época era em inglês, a professora além de explicar as regras do jogo, tinha que ensinar a garotada a tradução dos off-side, córner-kick, foul, entre outros termos.
A pesquisadora mossoroense Conceição Medeiros tem hoje um rico material bibliográfico e pessoal de Celina, que inclui certidão de nascimento e casamento dela, bem como fotos do álbum de família.
O pesquisador e historiador Geraldo Maia também possui amplo material que conta a vida de Celina Guimarães e de seu esposo, Eliseu Viana. Ele conta que um dado interessante e que pouca gente conhece é que, apesar de letrada e pioneira, Celina também era submetida aos costumes machistas da época. Até sua conta pessoal no Banco do Brasil só era movimentada com autorização do marido.
No livro "O Banco do Brasil em Mossoró - 1918 - 1998 - 80 anos", de Francisco Obery Rodrigues, Fundação Vingt-un Rosado, na página 36, há uma observação sobre isso: "Destaco o depósito efetuado por Celina Guimarães Viana, feito em 22/09/1920, no valor de 300.000 reis. Dona Celina era casada com o Dr. Eliseu Viana e foi a primeira eleitora do Brasil. Não havia, porém, autorização para movimentar a conta."

A força feminina mossoroense
na política potiguar e nacional

O campo da política também tem sido palco de muitos feitos importantes envolvendo personagens mossoroenses. Da terra do sal e do petróleo saíram duas mulheres que colocaram seus nomes na história da política potiguar e nacional. Wilma de Faria e Rosalba Ciarlini entraram na política enfrentando o descrédito de muitos, mas a inteligência e capacidade de ambas tornaram possível feitos realizados somente por homens, até então.
Em 1988, numa campanha política acirrada contra Laíre Rosado – favorito nas pesquisas – a pediatra Rosalba Ciarlini foi eleita a primeira mulher a ocupar a Prefeitura de Mossoró. A ampla maioria de votos anunciava que a partir dali surgia um mito. Depois da primeira gestão no Poder Executivo Municipal (1989-1992), a pediatra voltaria a vencer as eleições municipais mais duas vezes e administrar a cidade em duas gestões. (1997-2000) e (2001-2004).
Em 2006 outra conquista. Com o reconhecimento do trabalho em todo o Rio Grande do Norte, a mossoroense foi eleita senadora da República pelo Rio Grande do Norte, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo no Estado.
História semelhante tem Wilma Maria de Faria. Nascida em Mossoró, passou a maior parte da vida no Seridó potiguar. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Wilma de Faria começou a trajetória política também em 1988, quando venceu a eleição para a Prefeitura de Natal, cidade que administrou por três mandatos, em 1988, 1996 e 2000, quando foi reeleita no primeiro turno.
Em 1986 foi a primeira deputada federal, cuja atuação recebeu nota 10 do Diap, orgão que avalia o desempenho dos parlamentares.
Em 2002, mesmo desacreditada pela maior parte dos setores políticos do Estado, concorreu ao Governo do Estado e surpreendeu a todos, vencendo a eleição, com 61% dos votos no segundo turno e 300 mil de maioria. Em 2006, foi reeleita para administrar o Estado por mais quatro anos.

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